-O vento sopra...Escuta este som?
-Não,não escuto esse som.
-Pode sentir este cheiro?
-Não,não posso sentir.
-Mas,por quê?
-Porque estou morto . E você,mergulhada até os pólos neste taciturno mar,delira nas profundezas de seus devaneios,sem notar o quanto engana-se a meu respeito.
Eram dois irmãos,um jovem casal dotado de olhar mórbido e sem vida,fitando vagamente as pequenas almas sorrindo no parque.
Todas corriam,saltavam,gritavam.Já eles,permaneciam congelados no canto mais isolado
do universo,incapazes de sentirem o calor de uma vida passageira,quase inexistente.
Margarida,com suas longas e ruivas tranças,sentado no balanço atado à árvore em que
Seu acompanhante encostava-se.
Luís,com o liso cabelo acastanhado tampando seus olhos claros,via-se indiferentemente
irreconhecível,frio como uma tempestade,longínquo como um centímetro.
Ambos eram uma sombra em tamanha maravilha.
-Por que diz que deliro?Assim que agradece minha visita?Vim até este lugar copm o objetivo Va maravilha.
ntado no balanço atado arque.
m o objetivo de conferir teu estado.
-Tu insistes?!Já lhe disse;estou morto!
-Como pode certeza ter e,ainda sim,transmitir tanta languidade,placidez?
O pobre toca o próprio peito:
-Desconheço outra razão concreta.Meu coração não bate,meus pulmões não buscam ar;não sinto dor e,como maior prova,nada mais temo,pois isto tornou-se desnecessário-enquanto falava,lágrimas de crisântemos caiam dos olhos de sua irmã,lanhando sua garganta em milhares de estilhaços-Acho que esta é a paz;Amarga para quem fica...
doce para quem vai...Na verdade,fico aliviado em ver tua dor.É a prova de que ainda vive.
-Por...Por que diz tudo isso?-chega ao ponto o dom da fala,dilacerado pela dor.
-Já percebestes,Margarida?Desde o momento em que aqui chegamos tu fizestes apenas interrogações.-abre seu ledo-Delira e perde a razão.Lembra que fora sempre assim?
-Como irmão mais velho,sempre esteve um passo adiante,tanto para nossos pais quanto para mim.Tua palavra assemelhava-se ao espelho da lei e da verdade.Fora,durante todo o tempo,meu herói.
-Ah!-desvia a atenção,fitando um pequeno e ágil mamífero saltando entre borboletas,ao longe-Aquele não seria o gato responsável por estar aqui?O que acha de irmos...
Antes mesmo de locomover-se,ao ouvir apenas a terrível conjugação do verbo “ir”,segura rapidamente a mão do irmão,implorando o que já encontrava-se fora de questão.
-Luís...Pode ficar e...Me balançar um pouco?
Enquanto relizava o último pedido,finaliza com a frase:
-É sempre fazes as perguntas...Trates de voltar e trazer-me respostas.
O mundo abre para mais outra vida.Contudo,há vezes em que aquilo pelo qual prezamos não permanece lá.
Surge uma frase em sua mente :
“-Luís,vamos até o lago que há no bosque,antes do jantar?”
E em seguida,a turva silhueta de sua mãe,trêmula,aos prantos,incapaz de manter-se firme.
-Margarida!Graças a Deus!-apenas estas palavras antes de abraçar a própria filha,oprimindo todo o alívio e desespero na minúscula fenda existente entre ambas,quase microscópica.
Ao olhar por detrás de seus ombros,a garota vê,no limite do denso morro,uma pequena e frágil carcaça daquilo que um dia fora seu irmão.
E,ao longe,antes de perder o campo de visão para as lágrimas,avista um sorrateiro gato caminhando.
.