quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"CONTO--( Diálogo..entre..Irmãos)--"




-O  vento  sopra...Escuta  este  som?
-Não,não  escuto  esse  som.
-Pode  sentir  este  cheiro?
-Não,não  posso  sentir.
-Mas,por quê?
-Porque  estou  morto . E você,mergulhada  até  os  pólos  neste  taciturno  mar,delira  nas  profundezas  de  seus  devaneios,sem  notar  o  quanto  engana-se  a  meu  respeito.

Eram  dois  irmãos,um  jovem  casal  dotado  de  olhar  mórbido  e  sem  vida,fitando  vagamente  as  pequenas  almas  sorrindo  no  parque.
Todas  corriam,saltavam,gritavam.Já  eles,permaneciam  congelados  no  canto  mais  isolado
do  universo,incapazes  de  sentirem  o  calor  de  uma  vida  passageira,quase  inexistente.
Margarida,com  suas  longas  e  ruivas  tranças,sentado  no  balanço  atado  à  árvore  em  que
Seu  acompanhante  encostava-se.
Luís,com  o  liso  cabelo  acastanhado  tampando  seus  olhos  claros,via-se  indiferentemente
irreconhecível,frio  como  uma  tempestade,longínquo  como  um  centímetro.
Ambos  eram  uma  sombra  em  tamanha  maravilha.

-Por  que  diz  que  deliro?Assim  que  agradece  minha  visita?Vim  até  este  lugar  copm  o  objetivo  Va  maravilha.
ntado  no  balanço  atado  arque.
m  o  objetivo  de  conferir  teu  estado.
-Tu  insistes?!Já  lhe  disse;estou  morto!
-Como  pode  certeza  ter  e,ainda  sim,transmitir  tanta  languidade,placidez?


O  pobre  toca  o  próprio  peito:

-Desconheço  outra  razão  concreta.Meu  coração  não  bate,meus  pulmões  não  buscam  ar;não  sinto  dor  e,como  maior  prova,nada  mais temo,pois  isto  tornou-se  desnecessário-enquanto  falava,lágrimas  de  crisântemos  caiam  dos  olhos  de  sua  irmã,lanhando  sua  garganta  em  milhares  de  estilhaços-Acho  que  esta  é  a  paz;Amarga  para  quem  fica...
doce  para  quem  vai...Na  verdade,fico  aliviado  em  ver  tua  dor.É  a  prova  de  que  ainda  vive.
-Por...Por  que  diz  tudo  isso?-chega  ao  ponto  o  dom  da  fala,dilacerado  pela  dor.
-Já  percebestes,Margarida?Desde  o  momento  em  que  aqui  chegamos  tu  fizestes  apenas  interrogações.-abre  seu  ledo-Delira  e  perde  a  razão.Lembra  que  fora  sempre  assim?
-Como  irmão  mais  velho,sempre  esteve  um  passo  adiante,tanto  para  nossos  pais  quanto  para  mim.Tua  palavra  assemelhava-se  ao  espelho  da  lei  e  da  verdade.Fora,durante  todo  o  tempo,meu  herói.
-Ah!-desvia  a  atenção,fitando  um  pequeno  e  ágil  mamífero  saltando  entre  borboletas,ao  longe-Aquele  não  seria  o  gato  responsável  por  estar  aqui?O  que  acha  de  irmos...

Antes  mesmo  de  locomover-se,ao  ouvir  apenas  a  terrível  conjugação  do  verbo  “ir”,segura  rapidamente  a  mão  do  irmão,implorando  o  que    encontrava-se  fora  de  questão.

-Luís...Pode  ficar  e...Me  balançar  um  pouco?
Enquanto  relizava  o  último  pedido,finaliza  com  a  frase:

  sempre  fazes  as  perguntas...Trates  de  voltar  e  trazer-me  respostas.


O  mundo  abre  para  mais  outra  vida.Contudo,há  vezes  em  que  aquilo  pelo  qual  prezamos  não  permanece  lá.
Surge uma  frase  em  sua  mente :
“-Luís,vamos  até  o  lago  que    no  bosque,antes  do  jantar?”
E  em  seguida,a  turva  silhueta  de  sua  mãe,trêmula,aos  prantos,incapaz  de  manter-se  firme.

-Margarida!Graças  a  Deus!-apenas  estas  palavras antes  de  abraçar  a  própria  filha,oprimindo  todo  o  alívio  e  desespero  na  minúscula  fenda  existente  entre  ambas,quase  microscópica.

Ao  olhar  por  detrás  de  seus  ombros,a  garota  vê,no  limite  do  denso  morro,uma  pequena  e  frágil  carcaça  daquilo  que  um  dia  fora  seu  irmão.
E,ao  longe,antes  de  perder  o  campo  de  visão  para  as  lágrimas,avista  um  sorrateiro  gato  caminhando.



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